Que guerra estranha onde só civis morrem
Iraque e Afeganistão, "as guerras da minha geração", parecem até guerras limpas comparadas com o conflito entre Israel e Irã.
Estou na fase de procurar analogias em universos inimagináveis porque nada do mundo atual consegue explicar o que vejo, sinto e penso. O único paralelo que me ocorreu nas últimas horas vendo a escalada do conflito entre Israel e Irã é o universo de Game Of Thrones e seus dragões.
O domínio que os dragões dos Targaryens instalaram em Westeros me parece a única imagem que pode se equiparar ao tipo de guerra que estamos vendo. Para quem não conhece bem o universo de Game Of Thrones, o que se deve saber é que dragões representavam a destruição e o terror. Por isso no imaginário de Westeros, são considerados como maldição. O povo, o povão mesmo, os de baixo, não sentem nenhum amor pelos dragões. Dragões devoram humanos de maneira indiscriminada.
A guerra entre Israel e Irã apresenta características similares. Os mísseis balísticos e os drones são os dragões deste mundo. Eles destrõem bairros inteiros sem discriminação.
Israel, Irã e, Estados Unidos não param de falar da ameaça que a arma nuclear representa, mas o que se vê já é uma guerra em que as principais vítimas são os civis. O povão. Os de baixo.
Parem um minuto para pensar nisso. Estamos realmente assistindo a um conflito armado em que duas potências militares estão lançando mísseis em áreas residenciais. Com bunkers ou sem bunkers, o que estamos vendo é uma INSANIDADE.
Voltemos um momento para 2003, 2005, por aí… e vamos pensar nas Guerras do Iraque e do Afeganistão que são “as guerras da minha geração”. Comparadas com o que estamos vendo hoje, essas guerras foram “guerras limpas”. Não lembro de aviões largando mísseis em cidades, no meio dos habitantes sem discriminação; não lembro de mísseis balísticos sendo atirados e cairem no meio das ruas. O ressentimento contra os americanos começou depois que o regime de Saddam Hussein caiu. A conquista do país em si preservou a vida dos civis iraquianos de algum modo. Sim, depois, um novo tipo de guerra começou em que a população começou a resistir contra a presença do invasor americano.
Me pergunto quando exatamente evoluímos e chegamos a esse estágio da humanidade em que esse tipo de guerra é normal. Eu sinceramente acho que para que fôssemos capazes de ver essa destruição humana e ainda suportar essa visão, algo realmente ruim deve ter acontecido no meio do caminho e nos levou a essa mutação.
Vejam bem; 2003 foi há 23 anos. A humanidade mudou tanto assim em tão pouco tempo? Esse deve ser o maior salto moral na história da evolução humana. Um salto para trás. Não. No passado, existiam barreiras morais que tornavam esse tipo de guerra inaceitável. Talvez a vergonha. Até os nazistas se escondiam para cometerem atrocidades.
Pois é, até os militares perderam a sua honra. Agora lutam como bandidos. Massacram civis enquanto se escondemm em abrigos secretos. Os termos da moda são “escudos humanos”, “danos colaterais”, aceitamos esses termos no nosso vocubulário cotidiano sem medir o peso das palavras que estamos proferindo. Ainda hoje, ouvi um especialista usar eles na CNN Brasil. Exceções se tornaram regras.
Enfim, tudo isso nos leva a um lugar. O lugar onde a moral humana foi assassinada: GAZA. Pessoas temem as guerras nucleares, mas na verdade nós somos incapazes de compreender que já estamos vivendo no meio de Westeros à mercê do humor dos dragões.
Nossos dragões são esses mísseis e esses drones que só matam civis. Que guerra estranha onde só civis morrem.
Que tristeza e que impotência...
sobre o Iraque, os militares estadunidenses sempre lutaram como bandidos, sempre foi terrorismo. O mesmo modus operandi de Israel no Líbano na década de 80. mas foram os primeiros a usar drones para atirar em civis como bem mostraram os vídeos vazados pelo Assange. sempre foram sujos, mas como disse chomsky: ao imperador e seus aliados, não há o uso da palavra terror para o que fazem.